Trajetória de resiliência (experiência pessoal): onde e como encontrar forças para continuar.
- Equipe PRO|GRUPO

- 22 de ago. de 2020
- 11 min de leitura

Sair da zona de conforto e correr atrás dos seus sonhos não é uma tarefa fácil, pelo contrário, só quem é vencedor consegue virar a chave e percorrer a batalha para a grande vitória.
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Quando a Ju me convidou para escrever no blog, logo de cara pensei: “é agora que vou compartilhar algo muito importante da minha vida!”. Registro aqui meus sinceros agradecimentos à ela!
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Vou contar uma história à vocês que nunca comentei em detalhes com ninguém. Talvez pelo momento que estou vivendo, concurseira há algum tempo na busca da aprovação, lembrar desse pedaço da minha vida, me levanta todos os dias para continuar na luta e tenho certeza que poderei inspirar você também.
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Desde criança sempre tirei boas notas sem ter que me esforçar tanto e raramente ficava em recuperação, o que me fez a achar que por não ter passado nenhuma dificuldade com provas no colégio, todo desafio seria tranquilo.
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Na metade do ano do terceirão prestei vestibular para “ver como era”, e sem me preparar efetivamente para ele, acabei passando no curso Direito que tanto queria, uma vez que meu pai era advogado e minha irmã havia se formado e passado na OAB na 1ª tentativa há bem pouco tempo.
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Me formei em 2009 numa instituição bem conceituada na minha cidade, nunca fui a melhor aluna mas também não era a pior e, por isso, achava que iria tirar de letra essa prova. Ledo engano! Mal sabia que seria a batalha interna mais forte e importante que vivenciaria para que levasse a lição aprendida para o resto da vida.
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Porém, após minha formatura o mundo se fechou quando chegou à fase de prestar o exame de ordem e não consegui passar, naquele momento tudo começou a ficar cinza. Eu não compreendia o porque, pois, oras, sempre consegui tudo, por que agora seria diferente?
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Quando da primeira reprovação, o balde de água fria chegou como um vulcão, sem avisar e sem eu entender nada. “Poxa, como assim não passei?”, era o pensamento que me veio na hora que não vi meu nome na lista de aprovados. Acreditava que o problema não era comigo e sim com a prova que “estava muito difícil”, conforme lia nos blogs da época, o que me conformava um pouco e que me enganou por um bom tempo.
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Na segunda tentativa ainda tinha a compreensão do meu pai de que talvez realmente a última prova estava complicada mas sempre ouvia o comentário de que apesar de não ter passado, a minha irmã que se formou em outra faculdade, não tão conhecida na época, conseguiu passar de primeira. Sei que ele não falava por mal mas aquilo ao longos dos anos ecoava não minha cabeça sem eu perceber.
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Nessa vez investi em cursinho e apostila, segui o cronograma disponibilizado e até desisti de procurar o primeiro emprego depois de formada. Mesmo meu pai já tendo um escritório consolidado, resolvi que iria me dedicar apenas aos estudos, estava me doando 100% àquele projeto.
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Porém, mais uma vez, outra reprovação para a conta! Não conseguia me conformar, afinal de contas, eu estudei, fui para as aulas do cursinho, resolvi exercícios, fiz tudo que disseram que deveria ser feito e não passei. Lembro que fiquei braba quando lia na lista de aprovados para a segunda fase o nome de algum colega de faculdade que sempre faltava aula ou tirava notas baixas e eu, que tinha me dedicado, não.
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Ah, naquele momento a pressão em casa ficou grande! Os comentários do meu pai já não eram mais de brincadeira, já havia uma ponta de indignação nas palavras dele. Como é comum entre irmãos brincar entre si, a partir de então, a minha irmã também começou a tirar sarro de mim.
Fui na onda de outros colegas e parti para a terceira tentativa, cursinho de volta, estudos e um misto de incerteza porque naquela altura eu mesma já comecei a duvidar de mim, de que todas as provas que tirei boas notas ao longo da minha vida eram uma farsa, que realmente eu não era tudo aquilo que cresci ouvindo que era.
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Todavia, outra vez, mais uma reprovação. E foi indo assim, “não atrás de não” e eu me sentindo cada vez mais encurralada, perdendo a força e a confiança de que seria capaz de conseguir passar um dia.
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No meio dessa turbulência, como via o fato de me tornar advogada cada vez mais distante, na época fazia pós-graduação e o Tribunal começou com um programa de estágio de pós-graduação. Vi o edital na pós de processo seletivo para estagiar com uma Desembargadora, em que o primeiro colocado, seria chamado. Naquela altura já estava pegando uma certa raiva da prova da OAB e resolvi tentar, uma vez que não podia advogar.
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Confesso que meio desacreditada porque já estava colecionando algumas reprovações e pra quem não passava na OAB, pensava que jamais passaria para trabalhar justamente com uma Desembargadora.
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Recém formada, tinha a visão que Desembargador fosse uma pessoa intocável, de suma inteligência e que só os gênios chegavam na assessoria do tribunal.
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Pra minha surpresa, fui a primeira colocada no processo seletivo e pouco tempo depois estava trabalhando no tribunal de justiça. Aquilo amenizou o clima em casa, meus pais voltaram a demonstrar o orgulho que tinham de mim e eu mesma estava muito feliz pela minha conquista mas quando chegavam os anúncios do exame de ordem, tudo desmoronava novamente.
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Lembro que depois da quinta reprovação, o clima ficou bem pesado. Quase como se fosse uma intimação do tipo: “tudo bem, você está trabalhando mais ainda é apenas bacharel em Direito”. Na época minha irmã trabalhando junto do meu herói todos os dias, o meu pai. E eu era apenas estagiária de Desembargadora.
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O meu psicólogo já estava bem afetado sem eu ter consciência disso. Na sexta tentativa, quando o examinador entregou a prova, lembro de estar tão nervosa de chegar ao ponto de pingar suor das minhas mãos no caderno de prova. Sem falar que naquele momento, só visualizava a cena de ouvir mais uma vez do meu pai que não tinha conseguido passar de volta e das inúmeras piadas que minha irmã faria novamente.
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Obviamente, naquela altura do campeonato eu já não estava prestando o exame de ordem para avaliar se eu sabia o conteúdo, ao contrário, a prova se transformou em uma prova contra mim mesma, de resistência e auto controle que eu já não tinha mais. Resultado? Sexta reprovação e um trauma sendo alimentado com mais força.
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Veio a sétima tentativa e foi a pior de todas. Simplesmente cheguei na prova e na hora de recebê-la entrei em pânico de um jeito que quando percebi, já havia me levantado da carteira, entregado a prova para o examinador sem ao menos tentar resolvê-la e ter corrido para o carro chorar. Aquele dia chorei muito, escondida de todo mundo, no pátio do estacionamento da faculdade que a prova foi aplicada, esperando dar o horário para voltar pra casa, já sabendo que nos próximos dias veria meu pai decepcionado comigo e eu mais uma mais alimentando aquele sentimento de que era incompetente.
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Já era o início do ano de 2012 e eu estava desde 2009 tentando, resolvi parar de me machucar. Havia sido promovida de estagiária de Desembargadora para assessora de juiz! Pois é, no meio do caminho surgiu outro processo seletivo, dessa vez para assessora de juiz e, mais uma vez, o primeiro colocado seria chamado. Quem foi a primeira colocada? Eu mesma!
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Naquela época, o assunto OAB já nem era mais falado na minha casa, foi como se tivesse sido enterrado e eu também evitava de conversar sobre isso com qualquer pessoa.
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Já havia um bom tempo que estava trabalhando no tribunal e comecei amar a atribuição e o dia a dia dos juízes. Inconscientemente não percebia que toda essa experiência no tribunal de justiça e minhas reprovações me dariam certeza de que lá na frente qual realmente seria minha vocação. Acredite, nada é por acaso!. Se eu tivesse passado na OAB na primeira ou segunda tentativa, já estaria trabalhando no escritório do meu pai e hoje não estaria na batalha dos concursos assim como você!
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Setembro de 2012, numa noite despretenciosa saio com as minhas amigas contra a vontade e acabo conhecendo o grande incentivador dos meus sonhos: meu marido.
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Naquela fase inicial de se conhecer, me contou que tinha irmã advogada, por isso, sabia mais ou menos como era se tornar uma. Nos demos super bem logo de início, e como toda essa história de OAB eu não dividia com quase ninguém em detalhes, quando menos percebi, me abri com ele.
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Aos poucos ele notou que de fato meu problema não era a prova, era minha mentalidade em relação à ela. Até então nunca havia feito terapia, igual leciona o mestre Zeca Pagodinho: “nunca vi, nem comi, só ouço falar”!
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Resolvi ir na onda dele e fui atrás de uma psicóloga. Confesso que achei que esse negócio de terapia era bobeira mas pra quem só reprovava, se chegasse com mais uma reprovação em casa, não ia nem ser notada.
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Período de inscrições aberto para o exame de ordem, a primeira fase ia ser em janeiro de 2013. Fiquei meio assim, pois poxa, janeiro? Janeiro eu queria estar na praia, além do mais no dia 31 é meu aniversário, não queria passar essa época estudando, afinal, já tinha estudado outras vezes com afinco e não passei. Porque iria perder o verão sendo que com certeza iria reprovar de volta?
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Tudo bem, me inscrevi. Continuei disciplinada nas sessões com a psicóloga e resolvi investir pela milésima vez em cursinho. Estudei, segui a risca, meu marido que época era apenas um amigo estava lá, me apoiando, falando para não iria me ver seja durante a semana ou final de semana porque eu tinha que estudar. E assim foi até o dia da prova.
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Cheguei no dia calma, não sei se era por causa da terapia ou porque não era mais um ambiente novo pra mim, mas dessa vez optei por resolver a prova e não desistir sem ao menos tentar como da última vez.
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Dia de divulgar a lista de aprovados, fiquei dando o F5 na página escondido de todo mundo no trabalho porque não queria compartilhar que havia reprovado. Pra minha surpresa passei! Não acreditei quando li meu nome. Eu, finalmente, tinha conseguido passar na primeira fase. Lembro que voltei pra casa correndo pra contar a novidade para minha família e meu pai até desconfiou na hora se era mesmo verdade. E não era que dessa vez era?
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Apenas na oitava vez consegui passar! Entre esse período de colecionar reprovações, o mais desafiador ao longo da caminhada foi me conhecer, aceitar que nem tudo vem fácil, que depende apenas de mim e de você aí que está lendo, para vencer a luta e conquistar a medalha de ouro.
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Resolvi de uma vez por todas respirar exame de ordem. Eu estava na segunda fase, estudei como nunca havia estudado antes e me dediquei àquela prova mesmo sabendo que, na época, nada mudaria na minha vida profissional. Afinal de contas, trabalhava como assessora de juiz e não tinha planos de sair da onde estava para advogar.
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Foram dias pesados, trabalho e estudo não é pra todo mundo, é só pra quem tem sede de vitória. Tinha dias que eu não estava com a mínima vontade de estudar ou resolver exercícios, mas mesmo assim meu pensamento era de que eu precisava fazer aquilo.
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No fundo sabia que poderia vir mais uma reprovação, afinal, faz parte do jogo, mas enquanto eu estivesse tentando, haveria a chance de passar. Ao longo da minha preparação eu já me via recebendo a carteira da OAB pelas mãos do meu pai. Sim, a motivação que eu carregava era muito forte, queria muito dar esse presente pra ele de que, finalmente, me tornava sua colega de profissão.
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De tão imersa que eu estava naquele clima de prova e confiante de mim mesma, saí do exame achando que tinha ido mal, afinal, tive a impressão de que as questões foram tão acessíveis que alguma pegadinha deveria ter. Você que estuda para concurso certamente já chegou a essa conclusão, quando a prova parece fácil, de duas, uma, ou você foi muito mal e errou tudo ou você realmente é um candidato que estava muito bem preparado e teve um resultado excelente.
E, surpreendentemente, eu fiz parte da segunda leva, consegui passar!
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Finalmente, há poucos dias me tornaria advogada! Ah, que sensação maravilhosa. Tinha conseguido vencer a batalha mais pesada até então vivenciada por mim, a batalha contra mim mesma.
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A sensação de dever cumprido, de que, sim, eu sou capaz e de ver meu pai do outro lado do palco recebendo o termo de compromisso para me entregar, foi o ápice do orgulho de mim mesma, de que tudo que eu almejar, eu sei que com esforço e disciplina, irei conseguir.
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A lição foi de que só passei na oitava tentativa porque não desisti na sétima reprovação! Aliás, tinha desistido momentaneamente, porém a sementinha que me incomodava por não ter passado até então, carregava comigo, mas Deus colocou as pessoas certas no meu caminho que me impulsionaram a retomar esse desafio.
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Hoje, 7 anos depois desse dia memorável, há quase 4 anos estou na segunda batalha importante da minha vida, a luta para passar no concurso da magistratura. E acredite, dessa vez com muito apoio do meu pai, que vibra com a ideia de ter uma filha juíza, da minha irmã, atualmente eu e ela mais maduras, sem fazer piada em relação a esse assunto, e do meu marido nem se fala!
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Viu só como nada é por acaso? Durante esse período de aprendizado e amadurecimento, me levaram a ter certeza que minha vocação é a magistratura. Ora, sem eu imaginar um dia, acabei indo trabalhar com algo não relacionado à advocacia. A “fuga” por não passar na OAB me levou a trabalhar naquilo pelo que hoje batalho para conquistar, o que me insere no mesmo mundo louco de concursos que você!
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Pra mim talvez fosse mais cômodo simplesmente ir advogar no escritório do meu pai, até porque ele já tem um nome forte no mercado ou até mesmo me conformar em ser assessora de juiz pelo resto da vida. Mas não, estaria feliz por trabalhar ao lado dele e da minha irmã ou de estar no dia a dia de um gabinete, porém, infeliz por não estar fazendo justamente o que me desperta paixão, no caso se optasse em advogar, ou no caso da assessoria, infeliz pelo fato de que naquelas minutas de sentenças ou decisões não é o meu nome que constaria como magistrada.
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Decidi seguir meu coração e sei que você que está lendo agora esse texto também!
Não pense que nesse período que resolvi me dedicar ao concurso da magistratura está sendo uma coleção de vitórias, ao contrário, já estou na segunda etapa da minha vida “colecionando reprovações”. Porém, hoje já tenho consciência que isso faz parte do jogo.
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Acredite, você é vitorioso por se dedicar tanto a um sonho ao ponto de se isolar da família em datas importantes, é vitorioso por reprovar e no dia seguinte estar sentado na sua cadeira para tentar mais uma vez, é vitorioso por seguir sua vocação e enfrentar os obstáculos que o distanciam de trabalhar num futuro próximo na carreira que enche seu coração de orgulho, é vitorioso por escutar de alguns de que seu sonho é grande demais, que não vai conseguir e fazer disso o gás que precisa para fortalecer mais ainda seu objetivo.
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Dias bons e ruins todos nós teremos, porém, o que vai mantê-lo no caminho correto é a disciplina, é estudar o que planejou mesmo que o dia lá fora esteja te chamando para curtir o sol e os amigos.
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Lembre-se sempre quem você é e que o trajeto que já percorreu até aqui é muito glorioso para cogitar em desistir, mesmo que tenha entrado nesse mundo de concurso há anos ou há dias. Tenha orgulho da sua história!
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Visualize seu momento de vitória e acredite que se alguém já chegou aonde você quer chegar, então, você também pode. E se ninguém chegou, mais um motivo para você provar pra si mesmo que não faz parte da massa.
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É com muita facilidade que as vezes damos desculpas para nos desviar do nosso sonho, mas lá na frente vai ser muito difícil conviver com a ideia de que tivemos oportunidade de virar o jogo e não a agarramos.
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Há poucos dias me deparei com uma frase do Conor McGregor que diz o seguinte:
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A falta de comprometimento é quase um insulto aos que acreditam em você.
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Levo isso como um mantra pois se um dia automaticamente eu estiver desviando do objetivo que tracei, estarei decepcionado não só a mim mas também todos aqueles que fizeram do meu sonho, o sonho deles.
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Tudo isso que falo aqui para você são pensamentos que me impulsionam todos os dias. Se você ainda tem dúvidas de sua capacidade, comece a pensar dessa forma, perceberá que seu rendimento e confiança mudarão completamente.
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Eu venci a batalha da OAB e sei que vencerei a do concurso. Tenho plena convicção de que em breve colheremos os frutos que estamos plantando. Continue firme, acredite em você.
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E se numa próxima prova você falhar, se comprometa a tentar de novo, e de novo, e de novo...
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Com carinho e desejando as melhores vibrações possíveis,
Larissa Cardoso
@laricardoso


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